domingo, 4 de abril de 2010

Maciço da Tijuca visto do céu

 Com muito prazer que fui convocado pelo Prof. Álvaro Barreto a escrever sobre o maciço da Tijuca na cidade do Riode Janeiro. Após diversos trabalhos em campo em conjunto, integrando com turmas de cursos preparatórios e escolas de ensino médio. Vejo que o conhecimento é a melhor ferramenta para protegermos a Floresta e o maciço da Tijuca. Neste texto faço a divisão, visando o leitor compreender a diferença entre os mesmos. Já que a Floresta está sobre esta unidade Geológico - Geomorfológico exercendo uma funcionalidade de estabilização das encostas  e exercendo o papel de agente de infiltração das águas das chuvas. por fim brindo ao leitor algumas fotografias tiradas por mim no sobrevoo realizado no maciço no fim de março.

O texto a seguir é parte integrante da Tese de Doutorado de André Batista de Negreiros, intitulada:


Reabilitação funcional de clareiras DE DESLIZAMENTOS na Floresta Atlântica e Efeitos na Produção de sedimentos: bases para redução de desastres causados por deslizamentos e enchentes em cidades costeiras.


O Maciço da Tijuca.

O maciço da Tijuca, se localiza no município do Rio de Janeiro, e se trata de uma das três unidades fisiográficas montanhosas da cidade do Rio de Janeiro (complementado pelos maciços da Pedra Branca e Mendanha). Este maciço possui uma área total de 118.7Km2 (11.870 ha), considerando a curva de nível contínua na cota de 40m (a.n.m.). Suas encostas são recobertas por vegetação, resultado em sua maioria, de um avançado processo natural de regeneração, não excluindo a influência de replantios iniciados no século XIX de espécies nativas e exóticas para a recuperação desta paisagem. 
Assim como os demais maciços costeiros, o maciço da Tijuca funciona como um importante centro armazenador e distribuidor de água das chuvas, que convergem descargas fluviais (liquidas solidas ou solúveis) para as baixadas costeiras através de uma rede de canais retificados e drenos enterrados, antes de desaguarem em seus respectivos reservatórios terminais na baía de Guanabara, nas lagoas costeiras (Rodrigo de Freitas, Tijuca e Jacarepaguá e diretamente no oceano (Coelho Netto, 2005).
O maciço  se situa entre os paralelos 22º55’ e 23º00’S e os meridianos 43º20’ e 43º10W, sua altitude está entre 0 a 1.021m, sua paisagem abriga um grande mosaico de coberturas e tipos de uso do solo, que vão desde áreas de afloramento rochoso, gramíneas, florestas em diferentes estágios sucessionais e áreas edificadas.

As características geológicas básicas do maciço da Tijuca são um embasamento rochoso de idade pré-cambriana em um terreno metamórfico de alto grau, com presença de corpos graníticos. Constituído predominantemente por três unidades litológicas principais com algumas variações composicionais e texturais: ortognaisses, biotita-gnaisses e leptinitos (Silva e Silva, 1987; Pires e Heilbron, 1989). Os solos caracterizam-se por predomínio de grandes extensões de Latossolos nas áreas montanhosas, aparecendo litossolos e cambissolos nas áreas mais íngremes (Coelho Netto, 1979).
O clima do Maciço da Tijuca segundo a classificação de Koppen é tropical de altitude (Cf) com temperaturas variando de valores médios máximos em 25ºC em fevereiro e mínimo de 19ºC em junho, resultando em uma média anual de 22º C. A temperatura máxima pode atingir 35ºC durante o verão e o mínimo excedendo 10ºC durante o período de inverno.
 A precipitação anual média oscila entre 2.000 e 2.500mm, podendo atingir picos de 3.300mm em anos muito chuvosos e picos negativos de 1.600mm em anos mais secos. A maior parte das chuvas se concentra, nos 4 primeiros meses dos anos. A maior pluviosidade que ocorre no verão é uma resposta direta ao impacto causado pela frente polar Atlântica, alterando a dinâmica habitual da atmosfera (Coelho Netto, 1985).



  A orientação e a altitude do maciço da Tijuca fazem com que o relevo funcione como um anteparo aos ventos úmidos provenientes do Oceano Atlântico na sua vertente sul determinando o surgimento de correntes convectivas de origem orográfica nas escarpas montanhosas e fundos de vale. A vertente norte e noroeste, por sua vez, apresentam condições climáticas mais seca e uma ocupação urbana mais intensa. A vegetação nessas áreas apresenta-se composta em grande parte, por floresta degradada e gramíneas, caracterizando uma crescente degradação (Oliveira et al.,1996)
Zaú (1995) estudando áreas submetidas à degradação na vertente norte do maciço da Tijuca demonstra que essas áreas apresentam maiores taxas de erosão e condições pouco desenvolvidas do subsistema de decomposição e estruturação do solo.

A Floresta da Tijuca

No interior do maciço da Tijuca, insere-se a área correspondente ao Parque Nacional da Tijuca, criado em 1961 e que consta hoje após ampliações uma área de 3.953 ha. Esta área é dividida em 4 setores que podem ser visualizados O maciço é composto pelas serras da Carioca, da Tijuca ou Três Rios e Pretos Forros (Coelho Netto, 1992);
A Floresta Atlântica que ocupa as encostas do maciço da Tijuca é conhecida localmente como Floresta da Tijuca, sendo atualmente composta em sua maioria por uma floresta tropical secundária. Esta área era recoberta por mata primária que foi desmatada para a implantação de fazendas de café, cana, chá e gado. A partir de problemas de abastecimento de águas na cidade do Rio de Janeiro no século XIX houve a iniciativa, por parte da coroa, de desapropriação destas fazendas e do reflorestamento por espécies nativas. Estes reflorestamentos não efetuaram o total retorno da vegetação, onde este foi conseqüência do processo de sucessão natural. Atualmente a vegetação do maciço é composta por áreas de formação secundária, remanescentes de formação primária e terrenos degradados (Mattos et al,1976 apud).

Coelho Netto (1985) aponta para uma diversidade de espécies em classes de estratos, podendo ser descritos em:

·         Estrato arbóreo - constituído por espécies que podem atingir entre 20 e 25 metros de altura, os troncos são retilíneos sem ramificações até o topo, onde passam a formar a copa. Dentre as principais famílias pode-se destacar a Leguminosae, Sapotaceae, Vochysiaceae, Bombacaceae, Euphorbiaceae, Meliaceae, Lauraceae, Lecythidaceae, Moraceae, Melastomataceae, etc;

·         Estrato arbustivo – desenvolve-se num ambiente de luz difusa sob umidade constante e temperatura menos variável. As árvores têm um menor porte e são mais delgadas. As famílias mais numerosas são: Palmae, Rubiaceae, Myrtaceae, Piperaceae, Meliaceae, Guttiferaceae, Melastomataceae, Lauraceae, Nyctaginaceae, Flacourtiaceae, Proteaceae, Lacistemácea, Annonaceae, etc;

·         Estrato herbáceo – as plantas não ultrapassam 2 metros de altura. As famílias mais representativas são: Marantaceae, Musaceae e Lastomataceae. Junto ao solo encontram-se ainda vários representantes das famílias Rubiaceae, Acanthaceae, Piperaceae, Solanaceae, Graminae e Apperaceae;

·         Lianas ou cipó – constituem um traço marcante das florestas tropicais. As epífitas, incluindo algas, liquens, cogumelos e orquídeas, desenvolvem-se sobre os troncos e ramos das outras plantas.


A proximidade dessa floresta com a metrópole do da cidade do Rio de Janeiro gera problemas de ordem do funcionamento interno do geoecossistema florestal, como observado na figura 4. A exposição contínua de substâncias químicas provenientes dos resíduos industriais, meios de transporte e poeiras terrestres, atingindo alguns níveis acima da tolerância. Outros efeitos perturbadores resultam da proliferação de queimadas e desmatamentos associados à ocupação desordenada das encostas, que vem se espalhando em direção as partes superiores e desrespeitando inclusive os limites do Parque Nacional da Tijuca (Coelho Netto, 1992).

Bibliografia: 

COELHO NETTO, A. L. (1979) O processo erosivo nas encostas do maciço da Tijuca, RJ, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós Graduação em Geografia, UFRJ, 112 p.

COELHO NETTO A. L. (1985) Surface hydrology and soil erosion in a tropical montainous rainforest drainage basin, RJ, Phd thesis, Katholieke Univ. Leuven, Belgiun, 181 p.

COELHO NETTO A. L. (1992) O Geoecossistema da floresta da Tijuca, in: Natureza e sociedade no Rio de Janeiro (Abreu, M. A. A., org.), Biblioteca Carioca/IPLANRIO, pp.104–142. 
 

COELHO NETTO A. L. (2005) A interface florestal-urbana e os desastres naturais relacionados à água no maciço da Tijuca: desafios ao planejamento urbano numa perspectiva sócio ambiental, in: Revista do Departamento de Geografia, 16, pp. 46-60.

OLIVEIRA, R.R; AVELAR, A. S.; OLIVEIRA, C. A.; ROCHA LEÃO. O. M; FREITAS, M. M.; COELHO NETTO, A. L. (1996) Degradação da floresta e desabamentos ocorridos em fevereiro de 1996 no maciço da Tijuca, RJ, in: Anais de Resumos do XLVII congresso nacional de Botânica, Nova Friburgo.

PIRES, F. R. M.; HEILBRON, M. L. (1989) Estruturação e estratigrafia dos gnaisses do Rio de Janeiro, RJ, in: Anais do I Simpósio Regional de Geologia do Sudeste, Boletim de resumos, pp.149-150.
 
    SILVA, P. C. F. S.; SILVA, R. R. (1987) Mapeamento geológico estrutural da serra da Carioca e adjacências, município do Rio de Janeiro, in: Anais do I Simpósio de geologia regional RJ-ES, pp.198–209.