Com muito prazer que fui convocado pelo Prof. Álvaro Barreto a escrever sobre o maciço da Tijuca na cidade do Riode Janeiro. Após diversos trabalhos em campo em conjunto, integrando com turmas de cursos preparatórios e escolas de ensino médio. Vejo que o conhecimento é a melhor ferramenta para protegermos a Floresta e o maciço da Tijuca. Neste texto faço a divisão, visando o leitor compreender a diferença entre os mesmos. Já que a Floresta está sobre esta unidade Geológico - Geomorfológico exercendo uma funcionalidade de estabilização das encostas e exercendo o papel de agente de infiltração das águas das chuvas. por fim brindo ao leitor algumas fotografias tiradas por mim no sobrevoo realizado no maciço no fim de março.
O texto a seguir é parte integrante da Tese de Doutorado de André Batista de Negreiros, intitulada:
Reabilitação funcional de clareiras DE DESLIZAMENTOS na Floresta Atlântica e Efeitos na Produção de sedimentos: bases para redução de desastres causados por deslizamentos e enchentes em cidades costeiras.
O Maciço da Tijuca.
O maciço da Tijuca, se localiza no município do Rio de Janeiro, e se trata de uma das três unidades fisiográficas montanhosas da cidade do Rio de Janeiro (complementado pelos maciços da Pedra Branca e Mendanha). Este maciço possui uma área total de 118.7Km2 (11.870 ha), considerando a curva de nível contínua na cota de 40m (a.n.m.). Suas encostas são recobertas por vegetação, resultado em sua maioria, de um avançado processo natural de regeneração, não excluindo a influência de replantios iniciados no século XIX de espécies nativas e exóticas para a recuperação desta paisagem.
Assim como os demais maciços costeiros, o maciço da Tijuca funciona como um importante centro armazenador e distribuidor de água das chuvas, que convergem descargas fluviais (liquidas solidas ou solúveis) para as baixadas costeiras através de uma rede de canais retificados e drenos enterrados, antes de desaguarem em seus respectivos reservatórios terminais na baía de Guanabara, nas lagoas costeiras (Rodrigo de Freitas, Tijuca e Jacarepaguá e diretamente no oceano (Coelho Netto, 2005).
O maciço se situa entre os paralelos 22º55’ e 23º00’S e os meridianos 43º20’ e 43º10W, sua altitude está entre 0 a 1.021m, sua paisagem abriga um grande mosaico de coberturas e tipos de uso do solo, que vão desde áreas de afloramento rochoso, gramíneas, florestas em diferentes estágios sucessionais e áreas edificadas.
As características geológicas básicas do maciço da Tijuca são um embasamento rochoso de idade pré-cambriana em um terreno metamórfico de alto grau, com presença de corpos graníticos. Constituído predominantemente por três unidades litológicas principais com algumas variações composicionais e texturais: ortognaisses, biotita-gnaisses e leptinitos (Silva e Silva, 1987; Pires e Heilbron, 1989). Os solos caracterizam-se por predomínio de grandes extensões de Latossolos nas áreas montanhosas, aparecendo litossolos e cambissolos nas áreas mais íngremes (Coelho Netto, 1979).
O clima do Maciço da Tijuca segundo a classificação de Koppen é tropical de altitude (Cf) com temperaturas variando de valores médios máximos em 25ºC em fevereiro e mínimo de 19ºC em junho, resultando em uma média anual de 22º C. A temperatura máxima pode atingir 35ºC durante o verão e o mínimo excedendo 10ºC durante o período de inverno.
A precipitação anual média oscila entre 2.000 e 2.500mm, podendo atingir picos de 3.300mm em anos muito chuvosos e picos negativos de 1.600mm em anos mais secos. A maior parte das chuvas se concentra, nos 4 primeiros meses dos anos. A maior pluviosidade que ocorre no verão é uma resposta direta ao impacto causado pela frente polar Atlântica, alterando a dinâmica habitual da atmosfera (Coelho Netto, 1985).
Zaú (1995) estudando áreas submetidas à degradação na vertente norte do maciço da Tijuca demonstra que essas áreas apresentam maiores taxas de erosão e condições pouco desenvolvidas do subsistema de decomposição e estruturação do solo.
A Floresta da Tijuca
No interior do maciço da Tijuca, insere-se a área correspondente ao Parque Nacional da Tijuca, criado em 1961 e que consta hoje após ampliações uma área de 3.953 ha. Esta área é dividida em 4 setores que podem ser visualizados O maciço é composto pelas serras da Carioca, da Tijuca ou Três Rios e Pretos Forros (Coelho Netto, 1992);
A Floresta Atlântica que ocupa as encostas do maciço da Tijuca é conhecida localmente como Floresta da Tijuca, sendo atualmente composta em sua maioria por uma floresta tropical secundária. Esta área era recoberta por mata primária que foi desmatada para a implantação de fazendas de café, cana, chá e gado. A partir de problemas de abastecimento de águas na cidade do Rio de Janeiro no século XIX houve a iniciativa, por parte da coroa, de desapropriação destas fazendas e do reflorestamento por espécies nativas. Estes reflorestamentos não efetuaram o total retorno da vegetação, onde este foi conseqüência do processo de sucessão natural. Atualmente a vegetação do maciço é composta por áreas de formação secundária, remanescentes de formação primária e terrenos degradados (Mattos et al,1976 apud).
Coelho Netto (1985) aponta para uma diversidade de espécies em classes de estratos, podendo ser descritos em:
· Estrato arbóreo - constituído por espécies que podem atingir entre 20 e 25 metros de altura, os troncos são retilíneos sem ramificações até o topo, onde passam a formar a copa. Dentre as principais famílias pode-se destacar a Leguminosae, Sapotaceae, Vochysiaceae, Bombacaceae, Euphorbiaceae, Meliaceae, Lauraceae, Lecythidaceae, Moraceae, Melastomataceae, etc;
· Estrato arbustivo – desenvolve-se num ambiente de luz difusa sob umidade constante e temperatura menos variável. As árvores têm um menor porte e são mais delgadas. As famílias mais numerosas são: Palmae, Rubiaceae, Myrtaceae, Piperaceae, Meliaceae, Guttiferaceae, Melastomataceae, Lauraceae, Nyctaginaceae, Flacourtiaceae, Proteaceae, Lacistemácea, Annonaceae, etc;
· Estrato herbáceo – as plantas não ultrapassam 2 metros de altura. As famílias mais representativas são: Marantaceae, Musaceae e Lastomataceae. Junto ao solo encontram-se ainda vários representantes das famílias Rubiaceae, Acanthaceae, Piperaceae, Solanaceae, Graminae e Apperaceae;
· Lianas ou cipó – constituem um traço marcante das florestas tropicais. As epífitas, incluindo algas, liquens, cogumelos e orquídeas, desenvolvem-se sobre os troncos e ramos das outras plantas.
A proximidade dessa floresta com a metrópole do da cidade do Rio de Janeiro gera problemas de ordem do funcionamento interno do geoecossistema florestal, como observado na figura 4. A exposição contínua de substâncias químicas provenientes dos resíduos industriais, meios de transporte e poeiras terrestres, atingindo alguns níveis acima da tolerância. Outros efeitos perturbadores resultam da proliferação de queimadas e desmatamentos associados à ocupação desordenada das encostas, que vem se espalhando em direção as partes superiores e desrespeitando inclusive os limites do Parque Nacional da Tijuca (Coelho Netto, 1992).
Bibliografia:
COELHO NETTO A. L. (1985) Surface hydrology and soil erosion in a tropical montainous rainforest drainage basin, RJ, Phd thesis, Katholieke Univ. Leuven, Belgiun, 181 p.
COELHO NETTO A. L. (1992) O Geoecossistema da floresta da Tijuca, in: Natureza e sociedade no Rio de Janeiro (Abreu, M. A. A., org.), Biblioteca Carioca/IPLANRIO, pp.104–142.
COELHO NETTO A. L. (2005) A interface florestal-urbana e os desastres naturais relacionados à água no maciço da Tijuca: desafios ao planejamento urbano numa perspectiva sócio ambiental, in: Revista do Departamento de Geografia, 16, pp. 46-60.
OLIVEIRA, R.R; AVELAR, A. S.; OLIVEIRA, C. A.; ROCHA LEÃO. O. M; FREITAS, M. M.; COELHO NETTO, A. L. (1996) Degradação da floresta e desabamentos ocorridos em fevereiro de 1996 no maciço da Tijuca, RJ, in: Anais de Resumos do XLVII congresso nacional de Botânica, Nova Friburgo.
PIRES, F. R. M.; HEILBRON, M. L. (1989) Estruturação e estratigrafia dos gnaisses do Rio de Janeiro, RJ, in: Anais do I Simpósio Regional de Geologia do Sudeste, Boletim de resumos, pp.149-150.
SILVA, P. C. F. S.; SILVA, R. R. (1987) Mapeamento geológico estrutural da serra da Carioca e adjacências, município do Rio de Janeiro, in: Anais do I Simpósio de geologia regional RJ-ES, pp.198–209.
Tive a honra de ter o professor André Negreiros ministrando uma disciplina no Curso de Pós-Graduação em Geografia do Brasil que fiz na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Duque de Caxias. Suas aulas foram essenciais e ajudaram muito em uma perspectiva diferenciada do objeto. O trabalho e a pesquisa desenvolvidos por ele e pela professora Ana Luiza são de extrema relevância aos estudos relacionados a essa maravilhosa área. Belo post! Parabéns!
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